Publicado por: João Leitão | Fevereiro 25, 2010

Ianukovich toma posse como Presidente da Ucrânia

in PUBLICO |

O Presidente eleito da Ucrânia, Victor Ianukovich, tomou hoje posse numa modesta cerimónia no Parlamento, onde toda a bancada da rival e primeira-ministra Iulia Timochenko se mostrou vazia.

Sem fazer qualquer referência a esta ausência – nem à do chefe de Estado cessante, Victor Iuschenko, líder do movimento pró-ocidental da Revolução Laranja de há cinco anos – Ianukovich fez a promessa imediata de colocar Kiev numa posição de neutralidade no palco internacional.

A política externa ucraniana sob a sua égide apostará no estreitamento de relações com a Rússia, a União Europeia e os Estados Unidos, com o propósito de conquistar “o máximo de resultados” para o país. “A Ucrânia precisa de uma estratégia de um novo movimento em frente e essa estratégia tem vindo a ser trabalhada pela nossa equipa”, afirmou no discurso de tomada de posse, esta manhã na Rada (câmara baixa) do Parlamento ucraniano.

A modéstia desta cerimónia ecoa ainda a aguerrida batalha pós-eleitoral travada por Ianukovich – a quem foi dada a vitória por 48,95 por cento dos votos, mais 3,48 pontos percentuais do que a rival – e Iulia Timochenko, a “musa” da Revolução Laranja, que persiste em não reconhecer a legitimidade do novo Presidente ucraniano (o quarto desde a independência do país em 1991).

Mas, ao mesmo tempo, a tomada de posse marca em definitivo o regresso triunfal do líder do Partido das Regiões (tradicionalmente próximo de Moscovo) ao poder, depois de ter sido humilhado internamente e na cena internacional pelos protestos maciços laranja de 2004 que lhe acabaram por retirar a vitória nas presidências daquele ano, sob acusações de fraudes eleitorais maciças.

Não tem pela frente, porém, um percurso que se adivinhe tranquilo: Ianukovich foi eleito com apenas um terço dos votos da enorme massa de 37 milhões de eleitores da Ucrânia e torna-se também no primeiro Presidente do país a ter sido eleito com menos de 50 por cento da participação total neste sufrágio. O que, aliás, sublinhou uma vez mais a profunda divisão existente na Ucrânia, entre o Leste e Sul industrial russófono e o Ocidente e Norte mais favorável ao Ocidente.

Timochenko, à cabeça, mantém uma posição de negação da vitória de Ianukovich. Apesar de ter acabado por desistir do recurso que interpusera no Tribunal Superior Administrativo contra os resultados confirmados pela Comissão Central Eleitoral – alegando, aliás, que o fez devido à “parcialidade” dos juízes, que diz se terem recusado a analisar as provas de fraude – a primeira-ministra mantém um discurso de contestação ao Presidente, que reiterou num discurso tele-visionado na noite de segunda-feira.

Já deixou claro também que não abandonará a chefia do Governo pelo seu próprio pé, recusando o desafio de Ianukovich para que se afaste e abra espaço para a formação de um novo Executivo de coligação. A primeira-ministra está a agora numa corrida contra o tempo, tentando reunir na Rada os votos suficientes para não capitular na moção de censura que o Partido das Regiões quer ver votada já na próxima semana.


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